Certeza é uma coisa que, às vezes, demora a
chegar, mas quando chega... Em alguns momentos, ficamos cegos diante de coisas visivelmente
gritantes, teimamos, não queremos ver. Deixamo-nos enganar, parece ser
prazeroso de alguma forma, sei que isso é estranho, soa meio masoquista (rsrs).
Mas é verdade, queremos viver aquilo, acho que bate certo frenesi trazido pela loucura
da incerteza certa, ou certeza incerta, não sei. Viver andando na “corda bamba”
é mesmo emocionante, pois oferece perigo. Sim, somos loucos, gostamos de correr perigo(rsrs)! Contudo, para mim, o
sentimento mais gostoso que existe, em casos assim, é o da certeza que vem logo
depois da louca incerteza certa. Pode demorar de acontecer, mas acontece. A
certeza nem sempre vem de vez, muitas vezes ela aparece aos poucos, nos
detalhes, nos pequenos gestos, em palavras, numa canção, em uma leitura que faz
a gente lembrar a insensatez vivenciada outrora. A impressão que tenho é de que
há um relógio despertando a todo tempo, dizendo: “Está vendo? Não era o que
você achava que era”. Ah, nessa hora sinto um alívio incrível, e uma grande
vontade de sair dançando de alegria. Penso comigo: “Fiz a escolha certa, ou
deixei de fazer a escolha que eu achava ser a certa. E isso, antes que fosse
tarde demais!“ Bate medo de ter sido tarde demais para “cair a ficha”. Eu sei, a
incerteza faz parte da vida, porém, só espero que a certeza nunca deixe de
estar ao meu lado quando eu precisar dela, ainda que chegue devagar, como de
costume.
Racismo.
África. Negro. Brasil. É a primeira vez que escrevo algo falando sobre esse
assunto, este texto não é poético, até poderia ser, mas não é. Só tem dor. Algumas palavras gritam dentro: "desumano", "complexo", "intocável", "indiscutível". Brasil...um país que nega as suas próprias raízes. Um
país que não se conhece. Um país em que, muitas vezes, o ato de racismo parte do
próprio negro. Um país que vemos homens e mulheres negros tendo como status o
fato de namorar uma pessoa branca. Sinto vergonha. Como é difícil viver na "terra de samba e pandeiro", como é difícil ser negro no Brasil. Talvez você diga o que já escutei
de muitas pessoas: “Racismo não existe”. “Isso é coisa de sua cabeça”. Ou
então: “Tudo agora é racismo, virou moda”. E ainda tem: “Somos todos de uma só
raça, a humana.” Então, estas são algumas das muitas outras falas que servem,
somente, para tentarem maquiar o racismo existente no Brasil. Poxa, é tão
triste escutar que negro só quer se fazer de vítima, é como se fosse um grito
que ecoa, da casa grande, que diz: “Cala a boca, negro, não quero escutar os
teus gemidos, sente a tua dor e fica calado, desgraçado!” Sim, concordo com o
fato de que apenas existe a raça humana, mas o conceito de raça foi difundido
durante um bom tempo, e os frutos ficaram. Será que é tão complicado entender
isso? (Rsrs). Temos as questões do evolucionismo e toda a história de
superioridades e inferioridades raciais, ideias que eram convenientes no
período de origem por fortalecerem as ideias racistas, ou seja, algo que atendia
aos interesses da Europa, a qual desejava ampliar o seu espaço de dominação enquanto
colonizadores. Mas parece que as pessoas teimam em tapar os olhos para tudo
isso, por que será? Quando penso sobre racismo no Brasil fico cheia de
indagações, assim como quando penso a respeito de milhões de outras questões
sociais que temos, mas me retenho à temática racial por ser o meu
questionamento nesse texto em específico. Onde vamos parar? Queria saber qual
negro no Brasil nunca sofreu racismo. Qual? Têm uns que dizem que não,
sinceramente não acredito! Na infância é uma coisa super-recorrente, qual
menina negra nunca escutou uma piadinha dos colegas por causa da textura do seu
cabelo? Qual? Acaba com a autoestima da criança, é uma agressão. Vem alguém e
fala: ”Criança é assim mesmo, diz o que vem na cabeça.” Jura? A criança não
nasce com discursos prontos, ela simplesmente reproduz os discursos já existentes. Nem vou contar as
coisas que já escutei no tempo de escola, prefiro não citar, é tão estranho,
tão abusivo, tão vergonhoso... Ainda vem alguém e diz que racismo no Brasil não
existe, eu gostaria de saber em qual Brasil essa pessoa vive, no mesmo que eu
não é. Um país miscigenado, onde não temos negros cem por cento negros, nem
brancos cem por cento brancos, mas onde se precisa estabelecer uma lei contra o
racismo, que questão paradoxal. (Rsrs). Oxi, mas se o tal racismo não existe,
por qual motivo tem a lei? Por qual motivo as escolas particulares não tem o
mesmo número de negros que tem de brancos? Por qual motivo as periferias são
compostas em quase sua totalidade de negros? Por qual motivo precisou criar
cotas para negros para que estes pudessem ter mais oportunidades de ingressarem em uma
universidade? São muitas coincidências mesmo. Foram 300 anos de escravidão e
são apenas 126 anos de abolição da escravatura, o ranço está aí, e bem forte! Torço
para que o grito de liberdade ecoe alto, pois acho que ele nunca ecoou, ou
melhor, ecoou sim, mas não foi escutado. Termino com uma reflexão feita pelo grande
Chico Buarque de Holanda (dispensa apresentações. Rs) , acho muito válida!
Acho
que lutar nunca foi muito prazeroso, vencer sim é prazeroso. Mas, como se sabe ,
para vencer, antes, tem que lutar. O negócio é quando a luta é travada dentro
de você, isso é devastador. E não é que quase cem por cento das lutas são
travadas dentro de nós... A luta da auto aceitação é uma das piores. Quanto mais nos aproximamos de Deus, mais conhecemos a nós mesmos,
vamos além de simplesmente olharmos para quem somos, e passamos, então, a enxergarmos quem somos.
Sim, enxergar, nesse caso, é mais que só olhar, como sabemos, há momentos em
que olhamos, mas não enxergamos. E enxergar quem somos traz coisas boas, mas
também traz uma série de implicações, como, por exemplo, a tal luta da auto
aceitação. Esta luta surge quando olho para Deus, neste instante sou rasgada,
fico em carne viva, e então minha alma fica despida, a alma está nua,
acabou o jogo do fingimento, está tudo ali, a olho nu. Não tem filtro, a
maquiagem para disfarçar as imperfeições já era! Vou olhando e enxergando, não
quero aceitar, começo então a olhar para outros em minha volta e vou fazendo comparações.
Vejo pessoas superando coisas, passando de um estágio para outro muito mais rápido que eu, e aí é que vem o pensamento quase que inevitável da comparação, penso comigo: Uau, essa pessoa consegue! E eu,
por qual motivo não consigo? A cobrança chega, a martirização começa, e então a
luta é iniciada, a luta da auto aceitação. Não, não sou igual às outras
pessoas, não sou igual a você, você não é igual a mim, fazer comparações é
injusto, injusto comigo e com você, injusto com as histórias que vivemos no ontem, "tijolos" da construção de quem somos hoje. Lutar para aceitar-se não é fácil, nenhum tipo
de luta é fácil, o que impulsiona é saber que algo de bom tiramos disso: a
vitória. Acredito que posso chamar o aprendizado que extraímos dessas lutas de vitória. A vitória dessa luta é ter, aos poucos, o autoconhecimento, e ter o
privilégio de pisar com mais firmeza no chão, afinal quando conhecemos mais a nós mesmos, ficamos mais seguros, pois passamos a saber o que nos atinge com facilidade e também o como podemos lidar com as situações, e isto tudo graças a Deus,
somente. A frase é: Eu não vou mais fugir de mim, aceito o desafio da vida! E o desafio consiste em enfrentar a si mesmo todos os dias.